6 de maio de 2024   
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O problema manteve-se, desde então, no mesmo pé. As unidades militares encontravam-se, dum modo geral, mal instaladas em duas categorias principais de edifícios; velhos conventos, adaptados a esse fim com todos os defeitos funcionais e higiénicos que advinham da sua antiguidade e do seu delineamento para uso diferente; e alguns, poucos, aquartelamentos expressamente construídos segundo o modelo de Vauban – notável técnico de engenharia militar francesa do século XVII –, com adequadas modificações introduzidas pela experiência ou pela evolução da arquitectura. Serve de exemplo a estes últimos o quartel de infantaria n.º 16, em Évora, tipo de edificação-bloco – século XVIII –, que acusa bem as insuficiências e falhas, próprias do período em que foi projectado e construído. Nele se vêem ainda os minúsculos compartimentos em as «esquadras» - ao tempo as unidades orgânicas regimentais – viviam com relativa independência; os corredores e escadas estreitos e incómodos – conjunto arquitectónico que, de modo algum, pode hoje corresponder ao complexo de condições requeridas pelo conveniente alojamento dos homens e do material.
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Fundamentalmente, dois são os sistemas em ordem aos quais está subordinado o estudo das instalações destinadas a quartéis: o tipo de «construção-bloco» e o de «descentralização».
Contra o primeiro desenhou-se de há muito uma reacção, inicialmente por considerações de ordem higiénica, depois por causa da sua inadaptabilidade às grandes exigências das modernas organizações militares.
Em face disto, o sistema de «descentralização» criou adeptos; e, sob esquemas de modalidade variada, teve acarinhada preferência em muitos países. Ele corresponde, com efeito, satisfatoriamente aos primaciais requisitos impostos para o alojamento dos homens e contém a solução única para a arrumação de material e de solípedes. O sistema foi, portanto, logicamente, adoptado em princípio para a construções dos novos aquartelamentos do nosso exército, aquartelamentos esses que, em linhas gerais, podem definir-se como agregados pouco densos, em que as edificações têm leveza, articulação lógica e elasticidade, em que entra o ar e o sol, a movimentação é fácil e simples a vigilância.
O douto Conselho Superior de Obras Públicas, em parecer de Junho de 1943, deu franco acolhimento à ideia e concepção dos novos aquartelamentos e apenas em questões singelas de pormenor pôs, judiciosamente, objecções. Não podemos resistir ao desejo – embora escassos sejam os limites do espaço de que dispomos – de registar neste lugar as palavras com que se remata a apreciação do primeiro anteprojecto tipo:

«O estudo apresentado constitui um trabalho sério e consciencioso, meticulosamente elaborado, com a constante preocupação de atender ao máximo as necessidades a satisfazer, e pode servir de base valiosa para a realização da tarefa monetariamente avultada, mas, sob o ponto de vista militar e social, altamente profícua, que o Governo intenta levar a cabo, decidindo dotar o País com aquartelamentos militares dignos de tal nome. E, assim, entende que o referido anteprojecto está, de um modo geral, em condições de merecer aprovação».

Entra a seguir a Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército, por intermédio dos seus serviços técnicos, no segundo e mais animado ciclo de actividade. O estudo de casos reais proporciona-se, porque há já terrenos escolhidos e aprovados. Preparam-se simultaneamente anteprojectos de cinco quartéis: regimento de infantaria n.º 5, nas Caldas da Rainha; regimento de infantaria n.º 6, no Porto; regimento de infantaria n.º 7, em Leiria; regimento de infantaria n.º 13, em Vila Real, e regimento de infantaria n.º 14, em Viseu, todos eles delineados e concluídos de acordo com o programa e esquema-tipo provados – cerca de vinte edifícios, totalizando uma área coberta de quase 20.000 metros quadrados, agregados segundo as suas afinidades, com zonas bem diferenciadas para a vida dos homens e para alojamento de material e de solípedes; com paradas, campos de manobras e lugar de jogos abrangendo aproximadamente uma quarta parte da área do aquartelamento, que, no seu total, anda à roda de 14 hectares, e tudo composto, enfim, de modo que nenhum embaraço funcional possa perturbar a mecânica normal da unidade ou a movimentação extraordinária da força aquartelada.
(Continua)

(Parte LXXI de …)


15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (071)

(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – NOVAS INSTALAÇÕES PARA O EXÉRCITO – Carlos Pereira da Cruz – Director-Delegado da Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército)

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