28 de março de 2024   
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«Quando cheguei ao Largo do Corpo Santo vi dirigir-se me um senhor que eu não conhecia. Apresentou-se-me dizendo ser o comandante Cabeçadas. Respondi-lhe que ia a caminho do encontro combinado e aquele oficial retorquiu-me que lá estaria também, mas que como tivera de vir ao escritório dum seu irmão em S. Paulo, calhara encontrar-me e resolvera falar-me.
«Entabulámos logo conversa mais larga. O comandante Cabeçadas trazia-me um convite em forma para eu aderir a um Movimento que se estava a, preparar e devia eclodir em breve. Inquiri dele quais os objectivos de tal Revolução, qual o caminho a seguir, uma vez vitoriosa. e devo confessar-lhe que as respostas não me satisfizeram. Fiz-lhe então sentir que vendo, embora, com a maior simpatia a Revolução que pusesse termo à desgraçada situação em que se encontrava o pais, a minha idade e a minha posição sempre conseguida fora do favor político não me permitiam tomar parte em aventuras. No entanto como tinha de partir no dia seguinte para Beja (numa suposta inspecção ao material militar que andava fazendo às várias guarnições, inspecção para que o Governo me nomeara, no fito evidente de me fazer: andar em bolandas, e a fim de o comandante Cabeçadas poder dar-me mais completos pormenores, do que se pretendia fazer), deixei-lhe em Lisboa o meu ajudante Menezes Alves que me levaria a Beja todas as informações, depois do que eu daria uma resposta definitiva. E assim se fez. O meu ajudante conversou com aquele oficial mas não conseguiu saber, quanto aos fins do movimento em marcha, mais do que eu soubera na rápida conversa do Largo do Corpo Santo.
O capitão Menezes Alves combinara com o comandante Cabeçadas a senha do telegrama que eu enviaria de Beja, a qual era «há trigo, ou azeite», não me recordo bem e que redigido desta maneira quereria significar a minha completa adesão e «não há trigo, ou azeite» queria dizer a minha recusa. É claro que foi esta última que veio, porque, repito-lhe, a revolução de que o comandante Cabeçadas me falava era uma coisa que eu não sabia o que viria a ser... Tudo isto, porém, se passava na última quinzena de Maio de 1926.»
Como se vê era a. confusão total.
No entanto quando desta conversa com o sr. comandante Cabeçadas já de há muito o sr. general Carmona tinha ligações com os chefes do 18 de Abril. Ainda antes do julgamento da Sala do Risco o sr. general Carmona fora convidado para tomar parte numa reunião que devia efectuar-se na herdade da Rebola, nos arredores de Estremoz, e à qual assistiriam, também, entre outros o general Sinel de Cordes, o comandante Filomeno da Câmara e o tenente-coronel Raul Esteves. Esta reunião em que se devia assentar em coisas concretas, não chegou a realizar-se por ter sido adiada à última hora. Já o sr. general Carmona tinha tomado lugar no seu automóvel de comandante da 4'.ª Região Militar quando recebeu o aviso do adiamento.
Pouco tempo passado, como já vimos, os chefes do 18 de Abril eram transferidos para Lisboa, realizava-se o julgamento da Sala do Risco e após a absolvição dos réus, o sr. general Carmona continuava em permanente contacto com o grupo dos generais chefiado por Sinel de Cordes, razão que explica, sobejamente, a não adesão do futuro Presidente da República à revolução do sr. comandante Mendes Cabeçadas quando por este abordado.

(Parte V de…)

A Arrancada de 28 de MAIO de 1926 (05)

(Fonte: Óscar Paxeco - 1956 - "A barafunda das conspirações e a chefia de Roçadas")

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