20 de abril de 2024   
>> PÁGINA INICIAL/TEXTOS
..:. TEXTOS

Em ocasiões diversas devo ter proferido duas frases, que uma à outra se completam e traduzem o que acerca do primeiro ponto poderia dizer: «Politicamente só existe o que se sabe que existe»; «Politicamente o que parece é».
Podeis lançar estradas, galgar com pontes os rios, erguer edifícios, reparar monumentos, estender fios telefónicos, construir portos, levantar barragens, irrigar os campos – e tudo isto se ignora? Não existe. Criam-se novas indústrias, descobre-se o subsolo, intensifica-se a cultura, conseguem-se novos mercados, acredita-se a qualidade dos produtos, protege-se por várias formas a economia nacional: assim será; mas para quem o ignora é como não ser. Acarinha-se, organiza-se, protege-se o trabalhador e o fruto do seu trabalho; proporciona-se-lhes em bairros alegres e higiénicos a sua casa; difunde-se a instrução, morigeram-se os costumes; eleva-se a vida sempre dentro da modicidade das condições locais; aformoseiam-se as aldeias; multiplicam-se os melhoramentos para atractivo da vida umas vezes e instrumento de trabalho outras; minora-se a sorte dos infelizes; frutificam-se as obras de assistência particular e pública; mas tudo isso de desconhece? Nem ao menos ter sido pedido e satisfeito lhe dará o ser: existe como activo nacional; não existe nos espíritos como activo da situação política.
Está justificada a primeira frase, isto é, verificado por muitos o primeiro facto. Agora o segundo.
Para a formação da consciência pública, para a criação de determinado ambiente, dada a ausência de espírito crítico ou a dificuldade de averiguação individual, a aparência vale a realidade, ou seja: a aparência é uma realidade política. E este errado conhecimento das coisas é pior que a ignorância delas. Por este motivo o cuidado de cercar os actos do Governo ou da Administração daquelas aparências que se ajustam aos interesses regulados ou defendidos, à honestidade das intenções, à justiça das causas, constitui o primeiro acto de defesa; rectificar cada desvio do conceito geral, repor a cada momento os actos na sua realidade perante as deformações da ignorância ou da má-fé, é dever e é necessidade que se impõe aos governantes e àqueles a quem incumbe auxiliá-los no desempenho da sua missão.
Quantos acontecimentos da vida política se regulam só pelas aparências! Quantas construções se reguem sobre aparências de inteligência, de iniciativa, de lealdade, de valor pessoal, de conhecimento dos problemas! Quantas reputações se fazem e desfazem, quantos valores se destroem, quantos empreendimentos ficaram em começo, só porque os envolveu o véu duma aparência enganosa e os olhos não puderam ver à luz da sinceridade o que ele lhes ocultava!
Simples gracejos podem ter a aparência de acerada crítica; palavras de desânimo em momentos de cansaço podem ter a aparência de falta de fé; a legítima ansiedade de perfeição e progresso podem dar a aparência do desgosto ou da revolta por que nada se fizesse ainda ou nada se fizesse bem. O que ouve e passa supõe esfriado o entusiasmo, perdida a fé, desaparecido o espírito de luta, abandonado o campo do inimigo, e isso deu-lhe atrevimentos e aumentou-lhes as forças. No entanto, no fundo das inteligências e dos corações nada há mudado – nada há mudado senão as aparências; mas essa mudança é às vezes enorme.
No processo de revisão crítica a que devem estar permanentemente sujeitos os nossos princípios, os nossos métodos, os resultados da acção para garantia do seu aperfeiçoamento e segurança da sua eficácia, não podemos contar com os que desejam destruir-nos e não melhorar-nos. Mas, ao fazer apelo à plena independência do espírito que julga a própria obra, não pode nunca esquecer-se que o fazemos para bem da Nação e não para gáudio de inimigos dela. Cuidado com as aparências! Porque «politicamente o que parece é».


Florilégio de pensamentos- Algumas das Mais Belas Páginas de Salazar (30)

Politicamente o que parece é – Discursos, Vol. III, págs. 195 e 198
Edições Panorama - Lisboa 1961

Consultar todos os textos »»

 
Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
«Salazar - O Obreiro da Pátria» - Marca Nacional (registada) nº 484579
Site criado por Site criado por PRO Designed :: ADVANCED LINES