ESTRADAS E PONTES
VIA VITA – a estrada é vida – diz o aforismo. Em verdade, nada mais certo: as estradas são a vida dos povos. Sem elas não há comunicações, não há vida social.
Assim como o coração, embora trabalhe impecavelmente, de pouco ou nada serve ao organismo se for imperfeita ou lhe faltar a rede circulatória das artérias e veias, assim um povo pode produzir os melhores artefactos ou pensamentos, que eles pouco ou nada aproveitarão se não forem distribuídos por boa rede de comunicações e transportes.
A necessidade de caminhos é velha como a humanidade. Da antiguidade histórica mais remotas nos chegam notícias deles. Tiveram estradas os Egípcios, os Caldeus, os Babilónios e os Romanos.
Este último povo levou-as a perfeição admirável, ainda hoje apontada como modelo de técnica construtiva, com sólidos alicerces e excelente superfície de rolamento para a sua época. O traçado nada deixava a desejar, tendo em vista a finalidade militar que norteou as construções. Por isso era sempre o mais directo, com extensas rectas e largas curvas, de modo a permitir deslocação rápida às legiões e ais seus carros militares, de eixos fixos e paralelos. Foram correndo os séculos. As estradas romanas continuaram a servir as populações e ainda chegaram delas aos nossos dias vestígios suficientes para se ajuizar da sua construção.
Com o rolar dos tempos, a dispendiosa técnica romana foi-se esquecendo, como se olvidou também que a estrada, como toda a construção, para ser duradoura, precisa de alicerces firmes e robustos. Este esquecimento nasceu da necessidade, sempre crescente, de multiplicar e facilitar as ligações entre os povos e de não haver recursos para custear os pesados encargos do estabelecimento das vias à romana.
Por isso outras soluções se buscaram, já que não eram os fins militares que impunham as novas estradas. E assim se recorreu à terra gura natural, em que os veículos iam marcando o seu trilho, tal como o trânsito nos caminhos de pé posto. Depois, por se deterioraram rapidamente, foi necessário consolidar esses trilhos com pedras duras. Em seguida levou-se a consolidação de toda a largura da via.
Os traçados apresentavam, no entanto, graves defeitos, sobretudo por virtude dos acentuados declives e das apertadíssimas curvas a que o terreno os obrigava. Recorreu-se então escavações nas terras altas e a aterros nas baixas, nivelando mais o terreno natural. Como as águas das chuvas se canalizavam pela estrada, foi necessário defendê-la com valetas e estabelecer aquedutos ao passar linhas de águas. A transposição destas deu lugar às pontes. Nas encostas foi preciso construir muros de suporte. E apareceram as obras de arte.
Drenaram-se os terrenos. Melhoraram-se os pavimentos. Da terra batida passou-se ao revestimento com lajes de pedra, calçadas e macadames.
(Continua)
(Parte CXXXII de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (132)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – ESTRADAS E PONTES – Luís da Costa de Sousa Macedo – General – Presidente da Junta Autónoma de Estradas)